As denúncias de Luís Horta são mais uma bomba no mundo do desporto, depois do que sucedeu com a Rússia. Os anfitriões do Rio'2016 fizeram tudo, segundo o especialista recém-chegado do Brasil, para que os atletas brasileiros não fossem controlados por doping antes do arranque dos Jogos.
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Luís Horta, antigo presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal, desde 2014 a trabalhar na entidade correspondente no Brasil (ABCD), acusou esta quinta-feira o Ministério do Desporto e o Comité Olímpico do Brasil (COB) de terem exercido pressão para que os atletas brasileiros que vão competir nos Jogos Olímpicos não fossem sujeitos a controlos antidoping a pouco tempo do arranque da competição.
"Eu e Marco Aurélio Klein, que era o responsável máximo da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD), fomos pressionados de forma grave pelo diretor executivo do Comité Olímpico (COB) Marcus Vinicius Freire. Ele telefonava e mandava mensagens pelo whatsapp a dizer que estávamos a fazer um uso excessivo dos controlos antidoping fora da competição, a incomodar os atletas na sua preparação ou a querer somente apresentar serviço à Agência Mundial Antidopagem. Nós estávamos apenas a cumprir a lei", declarou Luís Horta a O JOGO, um dia depois do caso ter estalado no Brasil na sequência de uma entrevista dada pelo especialista português ao jornal "Lance".
Luís Horta reafirmou as suas acusações em conversa com o nosso jornal, explicando que a pressão começou no início de junho e veio a avolumar-se com os contactos que começaram a ser feitos pelo já citado presidente executivo do Comité Olímpico do Brasil (COB) e que culminaram na substituição, pelo Ministério do Desporto, de Marco Aurélio Klein à frente da ABCD, a 1 de julho.
"Desde que Marco Aurélio Klein foi exonerado, deixaram de fazer testes fora da competição", afirmou Luís Horta que decidiu sair da ABCD, onde era responsável pelo planeamento dos controlos fora de competição, e regressar a Portugal antes de denunciar uma situação que considera "gravíssima". "A minha dignidade profissional e pessoal foi posta em causa e antes de falar quis proteger a minha integridade física e da minha família. Ainda ontem, ao final do dia, o diretor do Comité Olímpico do Brasil (COB) disse que não sou bem-vindo ao Brasil", disse.
"Achei que deveria ser proativo. Se não existir coragem para denunciar o que se está a passar, podemos cair, com o tempo, na situação ocorrida na Rússia. Não estou a falar de ânimo leve. Assumo todas as minhas afirmações sem problema", acrescentou Luís Horta, que defende "não existirem, assim, garantias de que as medalhas eventualmente ganhas pelo Brasil são limpas". "Houve um período em que não foram realizados controlos fora da competição e os atletas sentiram-se, caso tivessem essa intenção, à vontade para se doparem", referiu.
O Ministério do Desporto reagiu logo na quarta-feira à entrevista de Luís Horta ao "Lance", tendo emitido um comunicado onde rebate todas as acusações do médico português, garantindo que os controlos fora da competição deixaram de ser feitos entre 1 e 24 de julho por causa da suspensão da suspensão do Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD). "Isso não faz sentido nenhum. É uma falsa questão. O Ministério do Desporto e o Comité Olímpico do do Brasil (COB) têm divulgado dados completamente falsos, nomeadamente no número de testes que têm sido feitos", afirmou o antigo presidente da ADOP que, segundo o Ministério do Desporto do Brasil "vai ser acionado judicialmente para provar suas ilações ou se retratar publicamente".
