
Ivan Del Val/Global Imagens
Pedro Proença, presidente da LIga de Clubes, garante em entrevista a O JOGO que a Comissão de Instrução e Inquéritos dispõe de todos os meios
O caso do túnel de Alvalade voltou a trazer à atualidade a questão dos prazos da justiça desportiva. Pedro Proença está tranquilo em relação ao tema.
O Pedro Proença passou por centenas de túneis ao longo da carreira como árbitro. Aquilo que se viu em Alvalade, entre os presidentes do Sporting e do Arouca, é algo a que costumava assistir?
Percebo onde quer chegar, mas não vou comentar um caso que está sob a esfera disciplinar.
Mas toda a gente viu aquelas imagens...
É verdade e aquilo que deve ser dito sobre isso é que todos temos de refletir sobre os comportamentos que algumas vezes acontecem. E fico por aqui, porque faço questão de respeitar a separação entre o poder disciplinar e aquilo que me diz respeito, que é a organização das competições.
"Aquilo que lhe posso dizer é que os três maiores clubes portugueses fazem parte do board da Liga e, nas inúmeras reuniões que mantemos ao longo de uma temporada, trazem para cima da mesa aquilo que há de mais profissional e racional no futebol português"
A propósito, o presidente do CD deu a entender que os eventuais atrasos nas decisões disciplinares têm a ver com os trâmites processuais relativos à Comissão de Inquéritos da Liga. Há algo a fazer para encurtar estes prazos?
Como presidente da Liga, aquilo que garanti à Comissão de Instrutores que agora existe foi o fornecimento de todos os meios para que possam executar o seu trabalho dentro dos prazos legalmente definidos. Temos de separar aquilo que é a área disciplinar instrutória, que reside na Liga, e a parte de decisão, que pertence ao Conselho de Disciplina. Há cerca de uma semana, reunimo-nos e tivemos o privilégio de ter connosco a presidente da Comissão de Instrutores que nos garantiu que neste momento não há nenhum processo em risco de prescrição, que todos os processos estão absolutamente controlados em relação ao respetivo prazo, tranquilizando a Direção relativamente a essa matéria. Também nos disse que os meios colocados à disposição pela Liga são suficientes para as necessidades. Dito isto, não me vou pronunciar sobre o teor da entrevista do presidente do Conselho de Disciplina.
Consideraria a hipótese de propor o funcionamento da Comissão de Instrução e Inquérito a tempo inteiro?
A Comissão trabalha em função daquilo que é a respetiva pendência. Se ela aumentar, trabalharão mais; se ela reduzir, trabalharão menos. Já houve, ao longo deste último ano, necessidade de que a carga horária destes instrutores fosse aumentada. Não houve nenhum processo em risco de prescrever. Agora, é muito importante perceber que a Liga não decide processos disciplinares. A decisão pertence ao Conselho de Disciplina da FPF. Nós temos é de garantir que existem todos os meios para que a instrução seja feita e isso está garantido.
"Temos de separar aquilo que é a área disciplinar instrutória, que reside na Liga, e a parte de decisão, que pertence ao Conselho de Disciplina"
Há um omnipresente clima de crispação no futebol nacional. Há alguma coisa que seja possível fazer por parte da Liga para mediar esses conflitos?
Aquilo que lhe posso dizer é que os três maiores clubes portugueses fazem parte do board da Liga e, nas inúmeras reuniões que mantemos ao longo de uma temporada, trazem para cima da mesa aquilo que há de mais profissional e racional no futebol português. Estou convencido de que este processo de maturação que iniciámos aqui há cerca de um ano e meio vai redundar num discurso muito mais equilibrado. Da nossa parte, temos trabalhado para que exista mais tranquilidade. Percebemos que há posicionamentos políticos que são adotados, mas aquilo que temos tentado acrescentar é uma abordagem racional ao negócio. Claro que somos os primeiros impulsionadores da emoção dentro do jogo, mas fora do relvado temos de ter respeito pelo negócio e pelos nossos espectadores.
Até que ponto é que a proibição de participação regular em programas de comentário televisivo a dirigentes e funcionários de clubes funcionou?
É uma questão de posicionamento. Convém dizer que esta foi uma posição assumida pelos oito clubes que fazem parte dos Board da Liga e que depois foi aprovada em AG. Esta é uma decisão dos clubes que pertencem às competições profissionais e, portanto, há uma questão em relação à qual estamos todos alinhados: não podemos permitir que aqueles que pertencem a uma determinada organização digam mal dessa organização. A níveis diferentes, comportamentos diferentes: um adepto é um adepto, um dirigente é um dirigente. Esta responsabilidade que vemos na Premier League ou aqui ao lado em La Liga ou até nas competições da UEFA ou da FIFA não pode ser encarada de outra forma quando falamos dos nossos campeonatos.
E essa medida não foi contornada? Houve dirigentes que abdicaram dos respetivos cargos...
Os limites da legalidade e a forma como são ultrapassados não me interessam. Quero é fazer a defesa das competições e isso foi legislado. Se há dirigentes que deixam de o ser para poderem comentar, são decisões pessoais. Em todas as organizações há códigos de conduta e aquilo que fizemos foi seguir as melhores práticas internacionais a este nível. E deixe-me recordar que esta norma foi votada por unanimidade entre os clubes.
