Responsáveis pelo massacre de há um ano em Port Said foram castigados com pena máxima. A decisão causou o caos e 39 mortes nas ruas.
Corpo do artigo
O futebol egípcio voltou ontem a estar no centro do mundo, depois de um tribunal ter decidido condenar à pena de morte 21 das 73 pessoas acusadas de participação no massacre ocorrido no estádio de Port Said em fevereiro de 2012, aquando do jogo entre o Al-Masry e o Al-Ahly, então orientado por Manuel José [ver caixa], que causou 74 mortos. Mal foi conhecida a sentença, que só será aplicada depois de confirmada pelo "Grande Mufti", a maior autoridade religiosa do país, o caos instalou-se um pouco por todo o Egito. Enquanto adeptos do Al-Ahly e familiares das vítimas de há um ano celebravam a pena, familiares dos condenados tentaram invadir a prisão de Port Said onde os detidos se encontravam, causando uma outra tragédia, com várias dezenas de mortos - de acordo com diversas agências de notícias, o número de vítimas nos últimos dois dias chegava às 39.
No Cairo, Magdi Abdelghani aceitou explicar a O JOGO o porquê de tão pesada condenação. "No Egito, a justiça e a nossa religião diz que quem mata deve morrer", esclareceu o antigo jogador que entre 1988 e 1992 representou o Beira-Mar, acrescentando: "É claro que é triste, pois trata-se de vidas humanas. Mas é a lei e serve de exemplo."
Atualmente a desempenhar as funções de presidente do sindicato dos jogadores profissionais do Egito, Abdelghani salienta que tudo o que se passou deve servir de lição para o futuro, admitindo que se para um ocidental "a pena pode ser chocante", no seu país é considerada "uma sentença normal". "É tudo para que não se repitam casos idênticos no futuro", reforçou o antigo médio, acrescentando que "ninguém pode esquecer o que sucedeu em Port Said" no ano passado e recordando que a tragédia atingiu, sobretudo, "adeptos do Al-Ahly", precisamente o clube onde se formou e de onde se transferiu para Portugal.
Salientando que a condenação de 21 pessoas surgiu na sequência de "uma investigação ao que aconteceu depois dos incidentes de Port Said" e foi dirigida por "um juiz independente", Abdelghani ressalvou que a decisão foi "bem acolhida por quem perdeu familiares" no que deveria ter sido "apenas um jogo de futebol". "Foi feita justiça", reforçou o ex-jogador do Beira-Mar, salientando que o que importa agora é "pensar no futuro". "Fechou-se uma página negra, agora vamos continuar a nossa vida", acrescentou.
O caos - ampliado também pela crise política que o governo do presidente islamita Mohamed Morsi enfrenta - poderá prolongar-se por mais algumas semanas, pois ainda falta anunciar a decisão em relação a mais 73 acusados, o que acontecerá a 9 de março.
